O II Encontro Internacional Sobre o Uso de Tecnologias da Informação por Crianças, Adolescentes, Jovens e Adultos, organizado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, celebrara-se no Campus de Higienópolis, em São Paulo.
A conferência continuará com o trabalho inicializado na primeira edição do Encontro celebrada em 2012 na cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião debateu-se sobre ética, segurança, saúde e educação no uso da tecnologia pelas crianças e adolescentes e contou com a participação de Jorge Flores, fundador e diretor de TelasAmigas, que ministrou uma palestra sobre “Privacidade, Sexting e Grooming”.
Dessa vez, e querendo fazer da rede uma ponte de diálogo entre gerações, o Encontro focará principalmente em perigos e riscos na internet (cyberbullying, grooming, delitos cibernéticos…), saúde e internet, educação digital e inclusão social e ética e valores na era digital.
O Encontro contará com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros.
Nesta terça-feira, 2 de abril, entrou em vigor a Lei 12.737/2012, que considera crime a invasão de sistemas e aparelhos eletrônicos como celulares, computadores ou redes para a obtenção de dados particulares.
Também conhecida como lei “Carolina Dieckmann” pelo vazamento de 36 fotos íntimas do correio eletrônico da atriz, foi sancionada em dezembro do ano passado para dar resposta aos novos crimes surgidos no âmbito informático.
A recente lei pune com multa e prisão de três meses a um ano a quem invada dispositivo informático alheio e estabelece uma pena maior caso as informações obtidas sejam comunicações eletrônicas privadas ou segredos comerciais ou industriais, em concreto, de seis meses a dois anos de prisão e multa.
A divulgação, comercialização ou transmissão dos dados ou informações a terceiras pessoas aumenta também a pena, nesse caso de um a dois terços.
A intenção da lei é proteger a privacidade de quem navega na internet, mas não deve ser um instrumento para as pessoas se relaxarem e deixarem seus sistemas sem proteção. O especialista em Direito Eletrônico, Afonso Silva, adverte que “a partir do momento que a pessoa também não se protege, ela fica descoberta da lei federal”.
Além disso, especialistas criticam as penas estabelecidas pela lei assim como a falta de discussão em torno dela.
A vítima conhece ao agressor nas páginas de relacionamento da Internet e estabelece o contato que termina, mais cedo ou mais tarde, em cibersexo onde ambos tiram suas roupas na frente da webcam.
O chantagista registra a vítima nua e solicita dinheiro para que não seja publicado ou mesmo mostrado aos seus amigos e familiares identificados pelas redes sociais.
Muita gente navega pela Internet para conhecer pessoas novas e, em alguns casos, propositadamente ou não, pode até surgir algum tipo de experiência sexual. Para fazer isso existem diversas formas, embora existam algumas clássicas como os sites de relacionamentos. Mais recentemente, estão surgindo sites onde se pode conversar com estranhos aleatoriamente usando a webcam, como ,por exemplo, o Chatroulette, que em grande parte marcam a tendência para relacionamentos mais superficiais e, talvez, com mais riscos.
Como diz Jorge Flores, diretor e fundador de TelasAmigas, “Temos recebido várias chamadas nas últimas semanas, especialmente de jovens que dizem estar sendo chantageados por alguém que os vira nus pela webcam. O contato iniciou-se em um site de relacionamento ou em uma conversa mas depois trocaram mais informações ou dados que o chantagista utilizou posteriormente. Em alguns casos, trata-se de algo muito rápido: se conhecem, ficam nus diante da câmara e começam a chantagem exigindo dinheiro dentro de 24 horas. Outras vezes, o jogo dura mais tempo, mas o resultado é o mesmo”. Em muitos casos, a quantidade solicitada se encaixa no perfil da vítima que já havia sido estudada previamente uma vez que o objetivo do agressor é o deposito imediato.
Cada vez mais recebemos notícias que confirmam o aumento alarmante destes tipos de casos em várias partes do mundo: Singapura, Rússia, Brasil, Uruguai … e também Espanha, como já advertiram pesquisas realizadas em 2011 . Às vezes o processo da sextorsão termina tragicamente.
Um engano duplo: nem mesmo existe realmente uma pessoa nua do outro lado
Em alguns casos trata-se de uma gravação e, do outro lado do videochat existe apenas uma pessoa controlando o que a vítima acredita estar vendo e que seleciona as cenas quando ela está nua. Também pode se tratar de meninas contratadas para seduzir e ficarem nuas em frente da webcam para depois deixar a extorsão para os profissionais. Em qualquer caso, o que a vítima acredita ver é uma oportunidade, alguém que quer o mesmo que ela e que, geralmente, começa incentivando e oferecendo a despir-se em primeiro lugar. A partir desse momento, tudo é possível e quando a isca é realmente uma pessoa se alcançam limites inimagináveis nesta suposta relação íntima digital, mas especialmente virtual.
Os criminosos acercam-se ao círculo social da vitima para apresentar uma ameaça maior. Tratam de conhecer ou entrar na vida digital social de sua vítima (por exemplo, colocando-se por engano ou por direito em seu circulo nas redes sociais: Facebook, MySpace …) para que possam ameaçar a revelar precisamente o seu núcleo relacional , seus contatos, a existência de tais imagens comprometedoras.
O perfil das vitimas
É muito variado, talvez especialmente os homens, ainda que aconteça também com as mulheres. A vítima típica pode ser um rapaz ou homem adulto que pensa que encontrou uma mulher com quem compartilhar um momento de excitação e práticas sexuais usando a webcam. No entanto, podemos encontrar mulheres de meia idade e meninos adolescentes. “É possível que haja proporcionalmente mais vitimas entre a população homossexual, mas não podemos confirmar estatisticamente. A causa pode ser o predomínio dessas pessoas na hora de buscar experiências alternativas enquanto em seu ambiente habitual, físico e imediato, não há oportunidade ou não é assumido com tanta naturalidade”, disse Jorge Flores.
O que fazer diante de uma chantagem?
Segundo TelasAmigas “ainda cada situação é diferente e requer um tratamento específico”, estes são os 10 passos que você pode seguir, se você não foi capaz de impedir que alguém iniciasse uma “sextorsão“:
Instruções para uma vitima de “sextorsão”:
Peça ajuda. Solicite o apoio de um adulto de confiança.
Não ceda à chantagem. Não aceite as solicitações do chantagista se com isso ele se torna mais forte.
Não dê informações adicionais. Qualquer dado ou informação pode ser usado pelo chantagista.
Salve as provas. Quando te ameaçarem, guarde coisas delicadas… capture a imagem da tela e grave a data e a hora.
Remova informações delicadas. Apague ou salve em outro lugar as informações ou imagens privadas que você pode ter. Se você não tiver feito, tampe a webcam.
Remova malware. Certifique-se de que você não tem nenhum software malicioso – trojans, spyware… – em seu computador.
Altere as senhas. Você pode estar sendo espionando em suas comunicações nas redes sociais.
Veja se o agressor pode realizar suas ameaças. Muitas ameaças são blefes, não são verdadeiras. Tente comprovar que ele tenha as imagens que diz.
Diga ao agressor que ele está cometendo um crime. Ele deve saber que a lei pode persegui-lo e que você sabe disso.
Faça uma denúncia. A lei persegue duramente tais crimes, especialmente se você é menor de idade.
O artigo de Eduardo Jorge Madureira explica que sextorsão«é um neologismo que designa uma situação em que um adulto ameaça um menor com a revelação de material íntimo (uma imagem comprometedora, por exemplo) para obter mais sexo, em fotografias, vídeos e, inclusivamente, pessoalmente.» Porém, o cybercrime da sextorsão não se limita aos menores de idade já que abrange também casos de jovens e adultos cada vez máis afetados por situações deste tipo. Este decálogo que a seguir reproduzimos foi suscitado «pela tragédia de Amanda Todd, a jovem canadiana de 15 anos que se suiciou no mesmo mes de outubro por causa do cyberbullying derivado da chantagem de que estava a ser alvo por parte de um assediador anónimo, que usou uma fotografia (tirada de um vídeo gravado por webcam) da jovem com o peito nu para a amedrontar», como bem explica Madureira.
Decálogo contra a «sextorsão»
Pede ajuda. Solicita o apoio de uma pessoa adulta de confiança.
Não cedas à chantagem. Não cedas ao que o chantagista pede para que ele não se sinta encorajado a prosseguir.
Não dês qualquer informação adicional. Qualquer dado ou informação pode ser usado por quem te assedia.
Guarda as provas. Quando te ameace ou te mostre coisas delicadas… captura o ecrã do computador e anota o dia e a hora.
Retira toda a informação delicada. Apaga ou guarda num outro lugar as informações ou imagens privadas que possas ter. Se ainda não o tinhas feito, tapa a webcam.
Elimina malware. Assegura-te de que não tens software malicioso no computador (virus, trojanos, spyware…).
Muda as tuas palavras-chave. É que pode suceder que as tuas comunicações nas redes sociais estejam a ser espiadas.
Tenta perceber se é possível que as ameaças possam ser levadas a cabo. Muitas ameaças são apenas treta.
Avisa quem te assedia de que comete um delito grave. Deve saber que a lei o pode perseguir e que tu bem o sabes.
Apresenta uma queixa. A lei persegue com dureza este tipo de delitos, especialmente se és menor.
Realizaram-se já vários estudos no mundo sobre o fenômeno do sexting. Assim, o Instituto espanhol de Tecnologias da Comunicação (INTECO) publicou no passado ano o «Guia sobre adolescência e sexting» realizado conjuntamente com PantallasAmigas/TelasAmigas. Os resultados estimavam que um 4% dos menores espanhois dentre 10 e 16 anos se tinham feito a si mesmos fotos ou vídeos em uma postura sexy, enquanto um 8,1% reconhecia ter recebido imagens desta natureza por parte de desconhecidos. Mesmo mais preocupantes são outros dados como os publicados na revista Arquive of Pediatrics & Adolescent Medicine, que estimavam que o 28% dos adolescentes estadunidenses dentre 14 e 19 anos posaram nu e enviaram as imagens através de seus telefones ou e-mails.
O fato de que rostos famosos tenham convertido em popular esta prática, ou que a WWW aloje uma grande quantidade de videos pornográficos amadores protagonizados por pessoas muito jovens, favoreceu que os adolescentes o trivializarem. E é que «é preocupante que entre os menores pareça normal esta atitude». E o é mais por outro problema acrescentado: «O tráfico de fotos de meninos adolescentes, conseguidos por adultos que se fazem passar por menores e os enganam nas redes sociais. Boa parte da pornografía pederasta vem daí».
Alguns outros políticos vítimas públicas do sexting foram Ilse Uyttersprot, prefeita da Bélgica, Anthony Weiner, congressista dos EUA e Karina Bolaños, ministra da Costa Rica.
Jorge Flores, diretor da TelasAmigas, fala sobre o sexting para a TV pública espanhola
TelasAmigas foi convidada a participar no evento que nos próximos dias 19 e 20 de abril acontecerá em Rio de Janeiro com o nome de E.S.S.E. MUNDO DIGITAL e no que serão apresentados por especialistas nacionais e internacionais temas como o tecnoestresse e dependência à internet; Cyberbullying, sexting e grooming; Abusos, pornografia, pedofilia e exploração sexual; Escola e educação digital; Problemas médicos, benefícios e usos terapêuticos; Cybercrimes; Redes sociais; Rede Universitária de Telemedicina; Direitos humanos e segurança na internet; Ética e valores na era digital.
A conferência de abertura será feita em videoconferência com a participação do Dr. Michael Rich da Universidade de Harvard, no auditório do evento no Colégio Brasileiro de Cirurgiões no Rio de Janeiro, e da Dra. Regina Ungerer da Organização Mundial de Saúde, direto de Genebra.
Público-alvo: Profissionais das áreas de saúde, educação, tecnologias da informação e comunicação, direito e outros interessados, inclusive universitários.
O Encontro abrirá espaço para exposição de Posters sobre temas pertinentes ao evento e conta com Tradução simultânea.
17:30 às 18:30: Mesa Redonda: Futuro e Perspectivas: Que fazer?
Habilidades para a vida
Dra. Susana Estefenon (Inst. do Jovem, Projeto Saúde da Geração Digital- RS, Brasil)
Dra. Evelyn Eisenstein (FCM-UERJ, CEIIAS, RJ, Brasil)